segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Caiporas: os garotos da folia


Carnaval é tempo de festa, mas toda vez que um adolescente veste um paletó, uma calça de cetim e uma estopa caricaturada, em Pesqueira, Agreste de Pernambuco, a festa ganha contornos de seriedade. Os conhecidos caiporas, agremiação responsável por arrastar multidões pelas ruas da cidade durante os dias de folia, também são uma rota de fuga à violência e ao mundo das drogas para os jovens que batem à porta da fundadora, ano a ano, querendo ingressar na festa. São pelo menos dez jovens que disputam vagas anualmente,

Na face, eles carregam a vontade de sair pelas ruas durante os dias de carnaval assustando e brincando com foliões e também as marcas da vulnerabilidade social. Isaías Cordeiro, 18 anos, é o maior exemplo do papel social dos caiporas. Morador de uma região de classe baixa de Pesqueira, ele tem dentro da própria família um exemplo da violência, a história do irmão - atualmente preso. Sem querer ver a imagem pelo espelho da vida do irmão, Isaías decidiu trabalhar na feira. Foi onde conheceu dona Helena Rodrigues de Melo, 68, mulher do fundador e atual responsável pelos caiporas de Pesqueira.

Ela tinha ido fazer compras com a filha, Isaías era o vendedor. Elas convidaram, ele foi conhecer os caiporas. Isso aconteceu em 2007, mas a paixão pelos caiporas surgiu à primeira vista, quando o adolescente ainda era um menino. “Durante um carnaval, os vi passando na rua e disse à minha mãe que um dia estaria ali. Na época, ela não gostou muito. Mas hoje adora”, conta Isaías.

A mãe dele tem motivo de sobra para gostar. Isaías começou como mais um integrante e hoje é o braço direito de Helena. “A cultura ajuda a pessoa, tira você da rua e enaltece a cidade. Nasci em uma comunidade carente e não queria a vida dos outros. Essa ferramenta é o que me sustenta, me dá energia”, ressalta ele, que irá retomar os estudos neste ano.

Cleiton Silva, 14, segue os passos de Isaías. Ele conheceu o grupo por meio de uma tia, que foi solicitar vaga à responsável. Cleiton tinha 10 anos. “Já teve época em que não quis sair, mas meus pais me incentivaram a continuar. Principalmente porque a gente viaja para se apresentar, fica distraído”, contou. A empolgação de Cleiton levou outros amigos dele para os caiporas. Um deles foi Jonathan Fernandes, 12. Há dois anos na brincadeira, o garoto já teve até medo. “Morava em Caruaru e passava o carnaval em Pesqueira. Cleiton me chamou durante anos, até que decidi participar. O mais legal é que você viaja, conhece outros lugares”, explica.

A grande conexão entre uma brincadeira de carnaval e o cunho social quem dá é a própria Helena, que assumiu os caiporas a pedido do marido, e é apaixonada pela brincadeira e mais ainda pelos garotos. Ela quebra a cabeça para controlar todos eles, cuja idade mínima começa aos seis, mas não abre mão de tratá-los como filhos. “Não saio para canto nenhum. Meu divertimento é viajar com eles”, explica ela.

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