terça-feira, 29 de outubro de 2013

Discussão sobre políticas de cultura para povos indígenas encerra encontro no Sertão

Terminou na tarde do sábado (26/10) o Encontro de Artes e Culturas Indígenas, realizado pela Fundarpe e Secult, em parceria com os povos indígenas e as prefeituras locais aqui no Sertão de Itaparica. O povo Entre Serras Pankararu acolheu o evento, que durante três dias promoveu o intercâmbio cultural entre 8 povos indígenas da região. O encontro contou com rodas de diálogo sobre a importância da democratização das políticas culturais para os povos indígenas, oficinas e apresentações artísticas.

A escola Princesa Isabel, uma das 7 existentes no território do Entre Serras Pankararu foi a sede do evento, que também debateu sobre o papel social das escolas indígenas. A professora indígena e também coordenadora da escola, Elisângela ressalta a importância de “formar um aluno que conheça a sua cultura e que possa sair de sua comunidade sem esquecer dela”.

“A gente trabalha no sentido do fortalecimento da cultura, sistematizando os conhecimentos tradicionais. Temos um calendário específico, que dá prioridade às datas importantes do nosso povo, os professores são todos indígenas, a organização da escola é baseada nos nossos costumes”, contam as professoras Luciene e Dilma. As educadoras também falam sobre a importância das lideranças e dos mais velhos também no espaço escolar: “A gente dá muita importância aos saberes dos mais velhos. Eles são nossos eternos professores”.

Os rituais também são elementos presentes no espaço escolar, sendo realizados de forma contextualizada com as atividades pedagógicas, garantem as professoras. “Nossos rituais têm nos mantido fortes até hoje. Esse contato com nossos ancestrais nos fortalece. A gente busca toda força neles e são eles que nos protegem”, afirma Fernando, do povo Pankararu de Itacuruba.

Em eterna disputa pela legalização de seus territórios e pela preservação de sua identidade, a educação tem um papel essencial para os indígenas, afirma uma das poucas caciques mulheres, Dorinha, do povo Pankará: “Tudo em Pankará quem puxa é a educação: a juventude, a cultura, o grupo de anciãos, de lideranças, de mulheres. Tudo começa e termina na educação”.

“Nossa escola forma guerreiros”, afirma uma das professoras. “A gente mostra vídeos, fala da disputa territorial, a gente passa a nossa verdade pros alunos”, acrescenta. O Cacique Entre Serras Pankará, Marcelo também ressalta a importância de serem indígenas os educadores da escola: “Quem está ali dando aquela introdução tem amor àquilo. É um indígena transmitindo para seu próprio povo”.

Foi com satisfação que o encontro terminou, por partes dos indígenas, que ressaltaram a importância de encontrarem seus “parentes”, forma como chamam os outros povos: “Cada momento que a gente se une, que a gente senta junto e socializa, a gente traz um brilho lá na frente”, diz o Cacique Marcelo. Os participantes da roda de diálogo que fechou o encontro também ressaltaram a importância do estado pensar na criação de um espaço que garanta políticas permanentes para os povos tradicionais. “Nós resistimos até hoje pela nossa cultura, enfrentando lutas, batalhas, discriminação. Nós somos os povos originários dessa terra”, enfatiza o Cacique Marcelo.

A Coordenação de Povos Tradicionais da Fundarpe e Secult reafirmou o compromisso com os povos indígenas: “Nós da Secretaria de Cultura estamos cumprindo com a função do Governo do Estado de fortalecer o que já existe e apoiar as iniciativas dos povos tradicionais”, finaliza Henry Pereira. 

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