Uma das escolhas mais felizes do grande soberano inglês Henrique II foi a
do seu chanceler, na pessoa de Tomás Becket, nascido em Londres de pai
normando pelo ano de 1117 e ordenado arcedíago e colaborador do
arcebispo de Canterbury, Teobaldo. Na qualidade de chanceler do reino,
Tomás se sentia perfeitamente à vontade: possuía ambição, audácia,
beleza e gosto. Conforme as circunstâncias sabia ser corajoso,
particularmente quando se tratava de defender os bons direitos do seu
príncipe, do qual era íntimo amigo e companheiro nos momentos de
distração e divertimento. O arcebispo Teobaldo morreu em 1161 e Henrique
II, graças ao privilégio dado pelo papa, pôde escolher Tomás como
sucessor à sede primaz de Canterbury. Ninguém, e muito menos o rei,
podia prever que personagem tão comentado se transformaria subitamente
em grande defensor dos direitos da Igreja e em zeloso pastor de almas.
Mas Tomás já avisara o rei: Senhor, se Deus permitir que eu me torne
arcebispo de Canterbury, perderei a amizade de Vossa Majestade. Ordenado
sacerdote a 3 de junho de 1162 e consagrado bispo um dia depois, Tomás
Becket não tardou a indispor-se com o soberano. As Constituições de
Clarendon de 1164 tinham atualizado certos direitos régios abusivos e já
em desuso. Tomás Becket negou-se por isso a reconhecer as novas leis e
escapou da ira do rei fugindo para a França, onde ficou seis anos no
exílio, levando vida ascética num mosteiro cisterciense. Estabelecida
com o rei uma paz formal, graças aos conselhos de moderação do papa
Alexandre III, com quem se encontrou, Tomás pôde voltar a Canterbury,
acolhido triunfalmente pelos fiéis, aos quais saudou com estas palavras:
Voltei para morrer no meio de vós. Como primeiro ato repudiou os bispos
que haviam feito pacto com o rei, aceitando as Constituições, e o rei
desta vez perdeu a paciência, deixando escapar esta frase: Quem me
livrará deste padre briguento? Houve quem se encarregasse disso. Quatro
cavaleiros armados foram para Canterbury. O arcebispo foi avisado, mas
ficou no seu lugar: O medo da morte não deve fazer-nos perder de vista a
justiça. Recebeu os sicários do rei na catedral, vestido com os
paramentos sagrados. Deixou-se apunhalar sem opor resistência,
murmurando: Aceito a morte pelo nome de Jesus e pela Igreja. Era o dia
23 de dezembro de 1170. Três anos depois o papa Alexandre III o
inscreveu no catálogo dos santos.
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