sábado, 17 de agosto de 2013

Relação entre cultura e desenvolvimento na pauta da IV Semana do Patrimônio

A busca incessante pelo progresso e desenvolvimento tem sido um dos principais objetivos da sociedade contemporânea. No entanto, é preciso atentar para os mais variados aspectos que o termo "desenvolvimento" pode englobar, incluindo a cultura e os seus diversos papéis dentro da vida social. Este foi o mote da fala da socióloga e economista Tânia Bacelar, convidada para encerrar o seminário "Patrimônio cultural e políticas públicas: (des)envolvimento e desafios", nesta sexta (16/8). A atividade, que aconteceu no Teatro Arraial (Boa Vista), fez parte da VI Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, que vai até o próximo domingo (18/8) como ação promovida pela Secult-PE e Fundarpe.

Ao longo da apresentação, Tânia apresentou um vasto panorama sobre as relações entre cultura, economia e desenvolvimento. Ela explicou como as recentes crises financeiras de alcance global começaram a redefinir os papéis das diversas dimensões que perpassam o mundo contemporâneo, sobretudo a cultura. "A vida social é multidimensional e a dimensão econômica é muito pobre para dar conta de toda essa pluralidade", afirmou. Para ela, o modelo de desenvolvimento hegemônico, que se baseia apenas no aspecto econômico, se encontra defasado nos dias de hoje. Com as hegemonias em crise, entra em cena o conceito de desenvolvimento sustentável, que abrange as dimensões econômica, social, cultural e ambiental. Essa vertente vem ganhando amplitude em todo o mundo.

Segundo Tânia, o modelo de desenvolvimento sustentável amplia o espaço de discussão da cultura na contemporaneidade e destaca a dupla dimensão dos bens culturais: simbólica e econômica. Ou seja, destaca a importância crucial do seu papel dentro dos mecanismos de desenvolvimento das sociedades, e, por isso, ela deve ser sempre fomentada. Assim, o seu caráter transversal se traduz numa presença marcante em vários campos da vida social.

Ampliando ainda mais a questão da diversidade cultural, ela colocou em discussão a globalização e como ela deve operar em consonância com as realidades locais. Para ela, a homogeneização global deve interagir com a diversidade de cada lugar para poder sobreviver. Outro aspecto importante, dentro da lógica global, é a produção cultural, que se consolida como um importante setor vinculado à economia. Dados do Banco Mundial, apresentados por ela, mostram que 7% do PIB do planeta advêm de atividades culturais e a estimativa de crescimento é de 10% ao ano.

Outra tendência lembrada por Tânia é a de países emergentes estarem se tornando produtores – e não apenas consumidores – de cultura. A expansão das atividades voltadas para a música, o cinema, o design, as publicações, a web, o software e a fotografia denotam esta realidade. Tânia, no entanto, chamou atenção para duas vertentes nas relações entre cultura e desenvolvimento: 1) a corporativista, que reforça e protege os interesses dos agentes culturais já estabelecidos; 2) a progressista, que aciona e permite a expansão da criação e circulação de novos agentes culturais.

A realidade brasileira dentro de todos esses pontos apresentados, segundo Tânia, demonstra grandes avanços na política cultural do País, que trouxe a esse momento atual conquistas importantes, como os Pontos de Cultura, as bases para o desenvolvimento da economia criativa e a política de patrimônio cultural e imaterial.

Por Leonardo Vila Nova

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